“O Homem de Ouro”, de Mauro Lima, estreia no Festival do Rio e emociona o público ao retratar a complexidade de Mariel Mariscot.
“O Homem de Ouro” mergulha na mente de herói e vilão no Festival do Rio
A noite de sexta-feira (10/10) no Cine Odeon marcou a aguardada estreia de “O Homem de Ouro”, novo longa de Mauro Lima, exibido na mostra Première Brasil Hors Concours do Festival do Rio. A obra, que narra a vida controversa do ex-policial Mariel Mariscot, fascinou o público ao mergulhar na dualidade entre herói e vilão, revelando um retrato humano e profundo da sociedade brasileira dos anos 1970.

A sessão de gala contou com a presença do diretor, do elenco principal e de diversas personalidades do cinema, que celebraram a importância de revisitar a história do país com sensibilidade e sem idealizações.

“Uma história real”: o olhar do diretor e do protagonista
Durante a apresentação, o diretor Mauro Lima celebrou seu retorno ao Festival do Rio após 25 anos e destacou que o projeto se diferencia por ser “uma história real”, fruto de uma extensa pesquisa que incluiu depoimentos de pessoas próximas a Mariel Mariscot.
“O fato é que a trajetória de herói não é de um herói, o casal romântico não é exatamente romântico”, afirmou o cineasta, ressaltando o caráter documental e crítico da produção.
O ator Renato Góes, intérprete de Mariel, compartilhou os desafios de representar uma figura marcada por contradições morais e emocionais.
“Foi difícil de aceitar o que você precisa retratar, porque ele é um cara extremamente controverso, mas foi prazeroso”, declarou o artista.

Complexidade e contradições
O elenco conta ainda com Luisa Arraes, no papel de Darlene Glória, e Glamour Garcia, que interpreta Rogéria. O longa explora as contradições do protagonista e o contexto histórico da época, quando a polícia detinha “plenos poderes para cometer os atos mais terríveis e ainda ser condecorada por isso”, como destacou Luisa.
Mauro Lima traçou também um paralelo entre o passado e o presente, ao comentar:
“Se você analisar o Mariel hoje, ele é um sujeito cujos números letais dele são baixos se comparar com a PM aqui da esquina.”
Segundo o diretor, Mariel — um símbolo de masculinidade que namorava Rogéria — reflete a própria complexidade da identidade brasileira, funcionando como um verdadeiro ‘teste de DNA’ social.
O elenco e o legado do cinema nacional
A atriz Marina Provenzzano, que faz uma participação especial como uma cantora italiana, celebrou a experiência de atuar em outro idioma e destacou a importância da pesquisa para a construção da personagem.
Ao final da exibição, Mauro Lima ressaltou o crescimento do cinema brasileiro ao longo das últimas décadas:
“Naquela época, as premieres no Brasil eram 5 ou 6, e hoje são muitas. Isso mostra o quanto, nesses 25 anos, o cinema brasileiro evoluiu.”