
Uma edição especial da revista Time mostra o que os principais experts em felicidade falam sobre o tema. Resumindo, eles dizem que felicidade não está presente 100% do tempo, que é como uma atividade física – precisamos colocar na rotina certas atitudes para favorecê-la, que esconder sentimentos negativos não é o caminho para ser feliz, muito pelo contrário. Que o ideal é observá-los e observar os gatilhos para momentos de tristeza, e que as principais atividades atreladas à felicidade são: bom sono, ter um hobby diário (cantar, cozinhar, jogar videogame, etc), praticar atividade física diariamente, ter contato diário com a natureza, meditar e/ou rezar todos os dias… para hábitos ocasionais – encontrar amigos fora do ambiente de trabalho e familiares fora de casa.
Durante séculos, a felicidade era um campo de estudo limitado à filosofia e há apenas duas décadas o tema vem sendo abordado pela ciência ganhando cada vez mais proporções nos últimos anos. Porém, nunca se falou tanto em felicidade e nunca fomos tão infelizes. Atribui-se a isso o próprio modelo de sociedade em que vivemos pautado pelo individualismo e pelo prazer imediato. Somos o que a Dra Aa Lembke, professora de Psiquiatria e Medicina de Adicção na Universidade de Stanford, chama de “nação dopamina”. O hiperconsumo de toda ordem (comida, bebida, drogas, redes sociais, compras, sexo) tem causado um efeito rebote nos indivíduos.
“Quanto mais dopamina no cérebro, mais adictiva é a experiência e mais ela pende para a balança do sofrimento”, explica Denize Savi, especialista em bem-estar e felicidade. “Todos nós vivenciamos aquele momento de desejar mais um pedaço de chocolate, mais uma dose, um pouco mais de tempo navegando nas redes. Esse momento do desejo é o momento em que a balança do prazer pende para o lado do sofrimento. O problema é que o ser humano tem um apetite infinito por distrações”, reforça.
O que a Ciência propõe com suas pesquisas no campo da felicidade é encontrar o equilíbrio da balança, que não está em experiências que causam prazer. “A maioria das pessoas confunde felicidade com prazer e alegria. Prazer é uma sensação e alegria é uma emoção assim como raiva, tristeza e medo. Já felicidade é serenidade, equilíbrio. É um estado geral de bem-estar e contentamento pessoal”, explica a especialista.
Se vivermos pelo prazer ficamos presos numa esteira correndo atrás do próximo desejo a ser saciado porque nunca estamos satisfeitos com nada. Isso não é felicidade. Pelo contrário. “E essa corrida rumo a uma felicidade artificial nos impede de alcançar a verdadeira felicidade. Por quê? Porque não nos permite habitar o presente, o único tempo que existe.
Uma das premissas para viver uma felicidade sustentada é viver o agora, entendendo que a vida tem seus altos e baixos e que as emoções de valência negativa fazem parte da nossa existência. E que muitas vezes são elas que nos tornam resilientes e nos fazem amadurecer e encontrar serenidade.
4 DICAS DA ESPECIALISTA PARA TER UMA VIDA FELIZ
1 – ATENÇÃO PLENA
É manter-se no presente com 100% de atenção. Parece simples, mas não é, porque a nossa mente fica a maior parte do tempo divagando entre passado e futuro, ou remoendo alguma coisa mal resolvida ou antecipando as coisas. E isso acontece com frequência quando estamos fazendo coisas que já foram automatizadas na nossa rotina, como por exemplo escovar os dentes, dirigir ou tomar banho. Nessa hora nossa cabeça está em algum lugar do passado ou do futuro.
Passado e futuro são tempos que não existem. Passado é memória e futuro é uma projeção mental. E pasmem, 90% das coisas que pensamos sobre o futuro não acontece. “Quanto tempo e energia perdemos em momentos preciosos que poderiam ser mais bem aproveitados. Como no banho por exemplo. Sentir a experiência do banho é maravilhoso”, reforça Denize. “A única coisa que temos nessa vida é o momento presente. Só que na verdade não temos por que estar sempre estamos ausentes”, complementa.
Na Atenção Plena, que também é conhecida como Mindfulness, as preocupações com passado e futuro dão lugar à uma consciência do agora, que inclui estar por inteiro na experiência.
Para desenvolver essa consciência do agora é preciso lançar mão de práticas contemplativas. A meditação é a principal delas, além de ajudar a combater o estresse, a ansiedade, melhorar o sono e a criatividade.
2 – RECLAMAR MENOS
Quantas vezes você acha que você reclama por dia? Já parou para pensar nisso? Você sabia que a maioria das pessoas reclama uma vez por minuto durante uma conversa? Isso é dado de uma pesquisa da Universidade de Stanford.
De acordo com essa pesquisa nós reclamamos porque nos sentimos bem com isso. Nosso corpo libera dopamina, que é um neurotransmissor que causa sensação de prazer. Só que tem um monte de coisa que causa sensação de prazer que faz mal: comida gordurosa, refrigerante, cigarro, drogas em geral. E reclamar entra nessa lista de coisas que fazem mal.
A começar pelo fato de que ninguém gosta de estar perto de pessoas que só reclamam. Agora presta atenção nessa informação: quando você repete um comportamento, como reclamar, por exemplo, seus neurônios se ramificam para facilitar o trabalho do cérebro. Porque o cérebro não gosta de trabalhar mais do que o necessário, aí ele tem esse mecanismo que é de automatizar as coisas. Então, se você ficar reclamando você vai reprogramar o seu cérebro, e com o tempo, você fica muito mais negativo do que positivo. É tudo ruim. Não tem aquelas pessoas que nada está bom? Pelo amor de Deus não seja uma delas!
E essa mesma pesquisa de Stanford mostrou que, além da ramificação dos neurônios, reclamar demais encolhe o hipocampo – que é uma área do cérebro que nós usamos para a resolução de problemas. É a área do pensamento inteligente.
Ou seja, se reclamar demais reprograma o nosso cérebro para a negatividade, ver o lado bom das coisas reprograma para a positividade.
3 – PRATICAR O TREINO DA GRATIDÃO
Assim como reclamar reprograma o cérebro, agradecer também o faz. O exercício da gratidão é um exercício de neuroplasticidade cerebral. Quanto mais grata a pessoa for, novas conexões neurais se formam e fazem com que o cérebro dela passe a escanear as situações positivas. Como se ela se transformasse num radar de captação de coisas positivas.
De uma forma simples de entender: gratidão é mudança de olhar. No lugar de olhar para o que está faltando, olhar para o que tem. No lugar de olhar para os obstáculos, olhar as oportunidades. “A gratidão é um antídoto para a reclamação e para a escassez, mas como o ser humano tem uma tendência natural a ser negativo, é preciso desenvolver a gratidão como habilidade para a felicidade”, explica a especialista.
O treino da gratidão é simples. O pai da psicologia positiva, Martin Seligman chama de Exercício das 3 Bênçãos, que consiste em escrever todos os dias três coisas boas que aconteceram e qual emoção positiva esses acontecimentos causaram. Podem ser coisas simples, como uma conversa com um amigo, um abraço de alguém querido, um banho relaxante. A ideia é reeducar a atenção para os aspectos positivos da vida. “É um treino para o ver o copo meio cheio, ao invés de meio vazio como costumamos ver”, salienta Denize.
4 – INVESTIR NOS RELACIONAMENTOS
A maior pesquisa já realizada sobre felicidade pela universidade Harvard (https://www.adultdevelopmentstudy.org/) chegou à conclusão de que são os nossos relacionamentos fortes que nos fazem felizes de verdade.
Criar laços verdadeiros com as pessoas impacta profundamente no nosso bem-estar. Mas a maioria de nós vive ocupada demais para investir nisso e a gente tende a pensar que uma hora vai ter tempo para marcar um café, visitar alguém ou mesmo ligar para alguém. “Nós temos essa mania de jogar as coisas para o futuro. Na nossa agenda a gente precisa reservar uns minutinhos para se conectar com as pessoas”.
E entre os principais ingredientes para a prosperidade dos relacionamentos estão: gentileza, boa vontade, empatia e boa comunicação.
Dados estatísticos dessa pesquisa revelam que quem tem bons relacionamentos, tem melhor saúde, melhor qualidade de vida, mais contentamento pela vida e mais percepção de felicidade.