Em “Intervalos”, Cléo Busatto celebra os silêncios e fragmentos do cotidiano em microcontos que revelam a poesia dos instantes simples da vida.
O cotidiano em fragmentos poéticos
A obra “Intervalos”, de Cléo Busatto, é um convite para enxergar com novos olhos os pequenos hiatos do cotidiano. Longe dos grandes acontecimentos, seus textos se ancoram nas sutilezas — um gesto, uma lembrança, um devaneio. São fragmentos que captam o que normalmente passa despercebido e revelam a poesia escondida nas pausas da vida.
Logo nas primeiras páginas, o livro se propõe a romper a pressa do dia a dia e abrir espaço para o sentir. Cada microconto é um lampejo — ora suave, ora visceral — que conduz o leitor a um território íntimo, onde memórias, desejos e afetos se misturam em breves, mas intensas, experiências humanas.
Reflexões sobre amor, solidão e pertencimento
Com delicadeza e coragem, Cléo percorre temas como amor, solidão, envelhecimento, espiritualidade, desejo, memória e pertencimento. Em cada fragmento, há a presença sensorial da vida: o cheiro do pão da avó, a dança de uma mulher, o banho com pétalas de jasmim, a carta nunca enviada ou a melancolia de um Ano-Novo silencioso. São instantes que reverberam na memória do leitor e convidam à introspecção.
“Eu já descobri (reafirmava ela, reafirmava eu), que alma saudável é como chama que crepita, solta fagulhas dentro da gente, faz os olhos brilharem e o corpo sorrir. Já entendi: ela precisa de alimento, e alimento para a alma é paixão, criatividade e natureza.” (Intervalos, p.25)
Arte, contemplação e pausa
Com ilustrações de Karina Busquets, a publicação aposta na linguagem visual como extensão da palavra. Os desenhos, sutis e orgânicos, dialogam com os textos e transformam cada página em uma pequena obra de arte. A estética reforça o convite à leitura desacelerada e à contemplação dos detalhes.
Um convite ao silêncio e ao reencontro
Mais do que uma coletânea de microcontos, “Intervalos” é uma experiência literária sensorial que propõe silenciar o ruído do mundo para ouvir o sussurro da alma. Ao criar um tempo próprio entre uma página e outra, Cléo Busatto reafirma seu talento como artista da palavra e oferece um raro convite: parar, sentir e se reencontrar.
